Um clima tenebroso assombra a cidade, as ruas estão vazias, os comércios fechados. Todos assustados, esperam, ouvindo os sussurros de uma ameaça que se aproxima, cativos pelo medo, causado pelas ações de um homem mal, sedento pelo poder... E aí weblovers, tudo bem com vocês? E vocês devem estar achando que eu resolvi começar pela sinopse da nossa história, mas só estava descrevendo o estado de São Paulo atualmente!
Agora sim, bora pra crítica?
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Autor(a): Melqui Rodrigues Ano: 2019 |
Não é novidade, para quem leu minha avaliação da primeira temporada de Vale dicere, meu degosto pela série que, apesar de ter boas cenas de ação, possuia um enredo com erros bobos que não conseguia imprimir o suspense, criaturas inexpressivas e um vilão caricato. Vocês podem se perguntar, então, o que raios poderia me fazer gostar dessa continuação?
Como qualquer história, o que atrai o leitor são os personagens. Um enredo pode ser péssimo, mas se temos personagens carismáticos, ao menos garantimos o público para uma próxima rodada. E esse é o grande problema dessa história: nenhum de seus personagens tem uma personalidade definida, profunda, capaz de cativar a atenção do leitor, trabalham bem em equipe, mas sempre seguindo os esteriótipos do garoto bobo, da moça durona, ou do cara calado, quando não caem na total falta de qualquer característica visível!
No início, ainda tinhamos a introdução àquele novo mundo, ao mistério de Emily e Dr. Addan, que conferia uma novidade, e assim, podíamos lidar com personas mais superficiais, mas quando tudo já está entendido pelo leitor, restam apenas os personagens, que neste caso, não tem o carisma para fazer com que queiramos torcer por eles. Eles nunca se desenvolvem ou crescem durante a temporada, sempre permanecendo no mesmo estado. Não há conflitos, e quando acontecem, são totalmente irrelevantes, não há lições a serem aprendidas, ou obstáculos, a não ser o grande vilão.
Na verdade, a todo o momento você sente como se essa narrativa fosse apenas um amontoado de pessoas fazendo coisas, mas nunca verdadeiros heróis, como o texto afirma. Lembra até o Bial chamando de heróis aqueles metidos que só tomavam banho de sol e malhavam, bom, mas, pelo menos eles faziam uns barracos interessantes, já estes, preferem mesmo só o banho de sol!
E por falar em tédio, me fale de um enredo em que nada acontece! Emily e Fionna estão presas em uma ilha, onde ficam a história toda e lá descobrem sobre o pai de Lisa, melhor ponto da série, então, partimos para o começo do treinamento dos agentes, que não leva a nada no fim, e pela maior parte do tempo, ficamos em uma reunião ministerial que também não leva a nenhuma resolução. Ao fim, Addan apenas manda matar Lisa, ou seja, seu grande plano ainda irá ficar para a terceira temporada, Fionna não efetua o plano que passou a trama toda tentando fazer e terminamos voltando para Emily tentando fugir da ilha, ou seja, ao começo.
E o enredo novamente insiste nos erros bobos: de repente, o capitão Dan anuncia um plano genial para derrotar Dr. Addan, ao qual todos reagem admirados: treinar os civis para o combate! Peraí, quer dizer que temos meros civis prestes a enfrentar uma guerra e o grande plano é treiná-los...
AhhhhVá!
Sem falar de fionna que se declarou culpada por criar o vírus, e foi solta da cadeia com uma fiança! Sim, a pessoa fabrica uma anomalia que está contaminando seres humanos a comerem pessoas, matando milhates e colocando toda Inglaterra em risco mortal, e aparentemente pode ser solta cumprindo serviços comunitários no fim de semana!
Mas eu não posso deixar de falar, caro leitor, de um personagem que conseguiu sim se destacar, um que se acentuou perante a todos, e não, não é o de coque samurai de "A cobrança", e sim, nosso narrador, pela sua intromissão extreamamente acentuada e, muitas vezes, irritante! Sua personalidade viva se sobressai a de seus personagens, com comentários durante o texto, até mesmo perguntas e conclusões óbvias:
Dr Addan sorri satisfeito com a decisão da rainha, ele se levanta de seu assento e se dirige à tribuna para dar seu depoimento. O capitão Dan fica apreensivo, Victor tenta acalmá-lo... É um momento de muita tensão, pois tudo está dependendo daquela reunião, se Dr. Addan conseguir convencer a monarca, tudo estará perdido.
Veja como ele tenta influenciar o leitor a sentir impatia e a tensão da cena, mas longe de cumprir o objetivo, ele acaba por irritar o público, pois, é a estrutura da narrativa e o carisma dos personagens que deve fazer o leitor se sentir dessa maneira, e não o que o narrador diz. É como aquela mãe manipuladora que obriga a filha a se casar com um homem que ela não ama e a todo momento, durante o casório, aperta os ombros da filha dizendo: Você está muito feliz, não é filha? Esse é o melhor dia de sua vida!
E se por um lado o narrador é intrometido e imparcial, em outros é tão neutro que acaba por distanciar o leitor do que o personagem está vivendo. Veja como ele narra a desesperada fuga de Emily daquela ilha:
Após sentir a gota que acaba de cair, as pálpebras da figura ainda fechadas começam a ficar incomôdas...
Ela continua a correr até passar por uma planta cheia de espinhos e acaba se ferindo...
Ao final, temos sim, aqui, algumas boas cenas de ação e a introdução de alguns elementos interessantes, como os monstros; e o autor continua com aquela vivacidade de quem quer entreter, mas infelizmente, ao preço de uma história sem bases para se sustentar e muitos menos por 3 temporadas.
Assim, termino esta história como Emily, da mesma forma como a comecei, no entanto, sei que para ela virá a resolução, quanto a mim, creio que esta batalha já esteja perdida.

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Notas
1. Essa coluna está protegida pela lei nº 9.610/1998, Art. 46 III, que protege a utilização de qualquer obra ou trechos dela, em qualquer mídia ou meio de comunicação para fins de crítica, estudo, ou polêmica.
2. Este quadro não tem como intuito rebaixar ou menosprezar qualquer autor ou obra, mas sim, de abrir um diálogo em prol da qualidade literária.
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