E que surpresa incrível saber que se tratava de uma adaptação do livre de Rute! Sim, um dos mais conhecidos e queridos capítulos da bíblia, do qual sou admiradora. E ela conta a história de uma das mais verdadeiras e belas amizades retratadas nos tempos antigos: a de Rute e Noemi, respectivamente, nora e sogra que, após a morte dos maridos vêm-se sozinhas para enfrentarem um mundo incerto, mas com união, amor e fé, conseguem vencer todas as barreiras sociais e espirituais.
Lindo, não é? E é claro que logo vem a pergunta: será então, que esta web conseguiu fazer jus a belíssima peça original?
E não é difícil perceber que, se não conseguiu retratar, ao menos foi inspirado por ela, quando, no inicio, um anjo aparece para Noemi, menina triste e rejeitada, e lhe diz que chegará em sua vida um amor que a acompanhará para o resto de seus dias. Um toque realmente especial que adicionou para o tom cativante da história, pois o enredo passa a girar em torno de um tema compartilhado pelo público e protagonista, com a qual se identifica, criando expectativa no mesmo para a chegada de Rute e a relação das duas.
No entanto, nenhum encanto é duradouro se o feitiço não foi bem arquitetado, e isso, acredito, foi o que ocorreu com “A promessa”. Apesar de enlaçar a audiência com um tema central carismático, ela falha terrivelmente na ambientação, tanto de falas como de cenário. E com isso quero dizer que, nada, absolutamente NADA parece ou soa como na época retratada!
Estamos no séc XII antes de cristo, certo? Você já parou pra pensar em como eram as casas, os costumes, os tabus, principalmente em uma comunidade restrita e religiosa como o pequeno povoado de israel? Bom, você pode nunca ter imaginado mas com certeza pode concordar que está bem longe disso:
NOEMI
Eu... eu não sabia que vocês estavam namorando...
NOEMI
Eu não tive culpa, eu não sabia! Foi o Iago que me convidou pra passearmos no campo, ele que...
TAMIRES
É, Noemi. Uma sardenta como você devia ter vergonha de andar na rua. Talvez devesse era viver aqui, fora da cidade, longe de todos! Só na sua cabecinha mesmo pra achar que o Iago, o meu namorado, iria querer alguma coisa com você.
Maya e Iago trocam um beijo.
MAYA
Tem razão, Tamires. (pula no colo de Iago) Vamos procurar um lugar mais privado.
Com Maya rindo em seu colo, Iago corre para o mato. (Tá bom, né...) :/
Em uma era em que mulheres não podiam sequer estar sozinhas com rapazes solteiros e casamentos eram arranjados pelos pais... Olha eu não sei muuuito de história, mas sei o bastante pra entender que naquela época não tinha JONTEX!
Os personagens são vistos a todo momento agindo e falando como plenos cidadãos do séc atual, com modos e hábitos próprios do nosso tempo. Até “reserva” em restaurante o autor inventa, namoro, sexo casual... Só faltava criar o Tinder e estávamos feitos com a versão “Malhação” da antiguidade!
E sei que muitos se utilizarão do argumento da “adaptação livre”, porém isto é totalmente mal interpretado. Uma adaptação consiste em pegar uma base e modificá-la de alguma forma, em nenhum momento é um aval para a falta completa de sentido. Se o escritor quisesse fazer a trama de Rute no século XXI, estava tudo bem, o problema está em estabelecer uma época, e agir como outra completamente diferente!
Outro grande problema foi a gigantesca enrolação para o desenrolar dos acontecimentos, tudo demora demais para acontecer! Ações que levariam 3 capítulos, chegam a mais de 10, pela ênfase desnecessária em diálogos repetidos e ações que não levam a nada. O romance de Elimeleque e Noemi, por exemplo, podia ter sido concluído rapidamente, não fosse o tempo desperdiçado em colocar impedimentos que não levaram a lugar algum.
Mas nada se compara ao pior escorregão de “A Promessa”: sua enorme quantidade de subtramas totalmente INÚTEIS. Caro leitor, acredite quando digo que jamais, JAMAIS vi uma obra ter tantos personagens sem uso, ou seja, que não se desenvolvem, não avançam ou que não tem qualquer carisma junto ao público, e dar a eles TANTO ESPAÇO na narrativa! Subtramas como a de Mayra e Iago, Salmão e Raabe, Josias, Leila, não conseguem apresentar motivos convincentes para continuarem na web, afinal, estão sempre repetindo as mesmas ações e não acrescentam nada ao andamento do enredo.
Para se ter uma ideia, TODOS os vilões podiam ser retirados da novela e não fariam qualquer diferença! Eles não mostram qualquer relação com os personagens principais, além de uma perseguição que não dá motivação aceitável e que acontece somente quando o autor precisa que algum dos protagonistas morra. Tamires mesmo, falha em fazer sentido: ela diz ter um imenso ódio de Noemi, ódio esse que a faz persegui-la para sempre. Porque? Porque seu namorado não aceitou casar-se com ela. O que isso tem a ver com Noemi? Não sei, ninguém sabe, no entanto, ela promete acabar com sua vida. Ah, detalhe: o namorado mesmo, ela não tem sequer rancor. ;/
Todavia, nem tudo está perdido! Entra em cena os bons trechos do enredo, principalmente os de Moabe, em que os dois filhos de Noemi, junto agora das duas amigas Rute e Orfa, resgatam uma menina que seria feita de sacrifício para o rei daquela terra. A ação é muito bem descrita e eletrizante, sem contar da química dos dois casais. Destaque para a conversa alternada entre os enamorados no templo, em que é mesclado o romance e o interesse pelo Deus de israel. Muito delicado e inteligente.
Mas o ponto alto, sem dúvidas fica para a protagonista. Rute é a única personagem para o qual o autor dá a devida atenção e define seus traços claramente, não é a toa então, que ela rouba a cena sempre que aparece e que de alguma forma é a responsável por dar a esta web seu encanto.
Sua psicologia é incrível: ela começa a lentamente desconfiar da crueldade do atos do templo, logo, tem contato com um Deus bondoso e manso, ao passo que desenvolve a relação com a pequena Aylla a quem quer proteger. Junte a isso a paixão por um hebreu e terá a receita para o conflito de Rute e consequentemente sua decisão. Uma progressão realmente bem realizada. Ela é tímida e obediente ao passo que é apaixonada e destemida. Um carisma que encanta e prende.
Agora, criar uma boa protagonista após ter feito a narrativa girar em torno da promessa de Noemi, para então construir bem a relação das duas, garantiria o sucesso e redimiria essa história de quaisquer erros. Infelizmente, não é o que ocorre.
A proposta original, era que Rute amasse tanto a sogra que fosse levada a largar sua terra e deuses, não por ela mesma, mas por Noemi. Desta vez, porém, Rute está mais encantada com o Deus de Israel e com Belém do que demonstra amor pela sogra. As duas sequer apresentavam qualquer laço forte antes da partida da cidade, Noemi chega mesmo a culpá-la pela sua falta de gestação, fazendo com que o leitor não compre a ideia dessa amizade tão grande, e assim, Rute não pareça cumprir um ato sacrificial, mas conveniente.
Ao fim, a promessa de uma amizade linda e forte entre sogra e nora não se cumpre, mas a de uma aventura cativante com uma protagonista carismática, essa sim, com maestria!
Então é isso pe-pe-ssoal! Espero que tenham gostado da crítica de hoje. Continuem sugerindo webs que eu prometo me esforçar para não sumir mais haha. Até a próxima. Beijoo e bye bye!
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