
![]() |
Autor: Geoffrey Chaucer Ano: a partir de 1387 |
Ela narra o drama de
um jovem cavalheiro que ao raptar uma moça, é condenado a forca. A rainha, ao
ver sua situação de desespero, então, oferece-lhe um acordo: se durante um ano
e um dia em busca da resolução para sua pergunta, voltasse com a resposta
certa, ela lhe concederia a liberdade. Sendo esta a inquirição: qual é a coisa
que as mulheres desejam acima de tudo?

" - Minha nobre senhora,
o que as mulheres querem é dominar e comandar seus maridos. Este é seu maior
desejo...".
Muitas agora,
principalmente as feministas, podem estar pensando: "é isso aí! Sempre
soubemos que o que nós queremos mesmo é mandar sobre os homens!". (Já
imagino a gritaria... kkk), Mas sinto lhes dizer, você não entendeu nada!
Desde pequenas fomos
criadas em um lar em que devidamente nosso pais nos amam e enchem de carinhos.
Somos o centro das atenções e cada desejo nosso é tido como mandamento por
eles. Os meninos também. Apenas que com eles ocorre uma pequena diferença: ao
chegar-lhes a idade, a figura do pai, geralmente, é a responsável por emitir
para ele as incumbências e deveres próprios de seu gênero, fazendo com que,
suas expressões emocionais se tornem menos importantes que seus compromissos com
a vida. Já a garota é comumente mais cuidada pelo mesmo como a "princesa do
papai", tendo seus anseios e alentos ouvidos sempre.
É conhecido na
psicologia moderna que os papéis que desenvolvemos com nossos progenitores e o
encarregado de nos ensinar o modo como enxergaremos e lidaremos com os seres de
sexo oposto. Ao garoto, o "Complexo de Édipo" como é chamado,
denomina o apego a figura da mãe vista como a mulher perfeita e idealizada. E chegando
a maturidade, ele aprende a desligar-se deste mecanismo, mas passando a procurar
nas mulheres com quem se relaciona muitas destas características. Bem, do mesmo
modo, a figura paterna instrui-nos a querer este mesmo olhar, aquele que nos
ama incondicionalmente e faz tudo para nos ver felizes, sobre nossos futuros parceiros
masculinos.
E isso é intrínseco a
alma feminina: querer ser cuidada e vista como a principal em um par. Podem
perceber a dinâmica por trás das relações: o homem sempre é, na maioria das
vezes, a parte apaziguadora e de proteção, enquanto que a mulher é a mais frágil
e necessitada de atenção. Isso devido também as diferenças biológicas. A fêmea,
tendo concentradamente mais força nos âmbitos sentimentais e de envolvimento
humano, enquanto o macho, a um pensamento mais racional e técnico. Por isso é
que nunca vemos homens dando chiliques, o que correntemente nos pegamos fazendo
de vez em quando.
E diante disto tudo
pode surgir o apontamento: como pode a parte mais fraca desejar, no fundo de
seu ser, dominar sobre o outro? E engana-se quem pensa que encontra-se aí uma incongruência
insolúvel. E a solução para este enigma está na própria palavra usada: domínio.
Diferente do verbo mandar, dominar significa reinar, ou habitar sobre um lugar
reconhecido. Ou seja, o desejo da mulher não está sobre impor por força ou por
leis suas vontades sobre o outro, nem que o mesmo entregue-se rendido. Está aí
a explicação do porque rejeitamos parceiros "bonzinhos demais". E é simples: esta "bondade" não está calcada
no querer o bem a nós, e sim, em um clamor da baixo autoestima, submetendo-se
a tudo por um intento egoísta de obrigar o afeto de alguém.
Nada é mais atrativo,
no entanto, para uma moça do que um rapaz seguro de si, que
sabendo seu valor, ama
a si mesmo e assim, é capaz de nos amar, desejando e reconhecendo em si as características
necessárias para contribuir para nossa felicidade. Em outras palavras, a mulher
ama, o homem que a ama. Porém, que amor seria este? E para a surpresa de muitos,
os textos sagrados já nos revelaram a milênios atrás. Como diz em Efésios 5:25:
Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si
mesmo por ela. Percebem a grandeza disto? Mais do que um sentimento, uma afeição,
vemos o amor expresso em sacrifício físico e espiritual, tamanha sua devoção. Não
fruto de um ato para ganho próprio, mas a verdadeira doação ante ao ser que se
adora.
Portanto, não é sobre
ser obedecida, mas sobre ser o objeto de adoração de alguém. Pelo o qual este
decide dar sua vida a nós, confiando de que sabemos o que é melhor para ele.
Como ao final do
conto, em que o jovem cavalheiro cede seu próprio destino as mãos da esposa, e
tem em recompensa uma mulher jovem, bela e dócil, de alma completamente devotada
a ele.
No entanto, longe de nos
oferecer alívio, este conto torna-se um alerta a todas nós, que desconhecidas de
nosso próprio ser dispendemos nossas energias em relações sem compromisso, rotinas
desgastantes, vício em trabalho ou outros inibidores. Fazendo com que, ao final,
nos tornemos independentes e bem sucedidas mulheres vazias.

O amor, enfim, é sim sobre
ceder. No entanto, mais que apenas suas vontades e desejos, mas a si mesmo. Para
ganhar em troca um novo ser: completo, inteiro, amado. E digo a vocês, não há
nada que um ser humano poderia desejar a mais que isso.
O homem foi feito para
amar. A mulher para ser amada e amar aquele que a ama.
" E que Deus
envie a todas nós maridos dóceis, jovens e fortes - concluiu a comadre de Bath.
- E destrua aqueles que não querem ser governados pelas esposas!".
CHAUCER, Geoffrey. Os contos de Canterbury.
Trad. de Fernando Sabino. Rio de janeiro:
Ediouro, 1987. p. 39-45.
0 comentários