Heloo Weblovers, como vocês estão? Bem, imagino que bem melhores do que a cinco meses atrás, não é mesmo? Quem diria que iríamos passar por tudo aquilo! De fato, se não fosse o óleo estar custando 6 reais eu julgaria que tudo não passava de um pesadelo, mas, graças a Deus, a vida pouco a pouco retorna a seu ritmo normal e poderemos voltar a nos preocupar com problemas menores... Como o câncer e a alta taxa de homicídios!
Autor(a): Francisco Siqueira Ano: 2019 |
E ela cumpre seu trabalho, utilizando-se de diálogos e costumes bem típicos daquela época e uma ambientação condizente. Ela se repete bastante, com o autor referindo-se constantemente ao calor, ao invés de explorar novas formas de descrever o cenário, e assim, não consegue dar vivavidade aquele universo, mas, ao menos, estebelece o tom proposto.
No entanto, lamento dizer que esta é a única coisa que sai conforme o planejado nesta trama, como em um acidente de carro em que sobram somente as rodas! E eu diria que este carro não somente deslizou na pista, como desviou-se completamente do caminho, derrapou na curva e esbarrou em um caminhão indo direto na direção de um abismo. Um abismo escuro e frio, lugar do qual todos os escritores fogem e tremem só de ouvir: o abismo da indiferença!
Muitos acreditam que o maior desafio de um escritor é criar uma boa história, e de fato, esta é uma dificultosa tarefa, no entanto, se pensarmos bem, uma história em si não serve para nada, ela nada produz, nada modifica. É o leitor o responsável por dar aquelas palavras vida e significado, portanto, ela precisa ser lida. Mas o que faria alguém querer ler uma história? E então, chegamos a conclusão de que o maior desafio de um escritor é fazer com que o leitor se importe.
Começamos com a saída de Josué de sua casa para fazer sua campanha pelo sertão. Até aí não sabemos nada sobre o personagem, e, portanto, não poderíamos nos importarmos menos com ele, e de repente, ele é colocado em perigo pela emboscada de Miguel, um de seus campangas. O mesmo jura querer fazer vingança, cujo o motivo também nada sabemos. Até que a trama volta no tempo, em busca de mostrar a razão para tal ato, ou seja, o que Josué teria feito para Miguel no passado para que ele o atacasse tão ferozmente agora.
O enredo é, então, baseado inteiramente nesta ação do passado que está tendo uma consequência no presente, sendo assim, é essencial que o texto consiga, com a volta ao passado, fazer com que a audiência se importe pelos dois personagens quando voltarem de novo para o presente. No entanto, nada poderia estar mais longe da realidade desta obra!
Isso porque sua narração nunca consegue nos fazer mergulhar nos sentimentos dos personagens, como neste trecho em que ficamos sabendo um pouco do passado de Josué:
Além do semblante imperturbável, trazia consigo a determinação dos tempos do bando de Zé Porcino, quando participava de emboscadas, raspando à faca de ponta as canelas das vitimas ou dando um banho de querosene para em seguida riscar um fósforo na roupa do infeliz a fim de conseguir a chave de um baú ou de um cofre… Fosse o que fosse, havia aprendido com o antigo chefe, e também com a miserável vida, que nada de fora o penetraria, mantendo, dessa forma, o coração arrojado, ao pé da goela.
Para que o público sinta por um personagem é necessário muito mais do apenas informá-lo sobre o mesmo, mas fazer com que o leitor experiencie o mundo através dos sentimentos daquela persona, vendo a realidade pelos olhos dele. É como se ouvíssemos o relato de uma tragédia na neve, por mais que nos esforçássemos, nunca conseguiríamos sentir os mesmos que aquelas vítimas, a não ser que nos colocássemos na mesma situação, bem, da mesma forma opera a narrativa. É preciso inserir o leitor no lugar da persona, o fazendo sentir-se como ele.
No entanto, a narração resume os sentimentos de Josué de forma rápida e seca, não nos dando a chance de nos inserirmos na pele dele, saber o que ele sente e como percebe o que está a sua volta. Mas pior é o que acontece com Miguel que, sequer tem essa chance: a única coisa que sabemos dele é que ele viu o pai morrer a sua frente pelas mãos de Josué, antes disso, nada e toda a sua construção após, a maneira com alimentou seu ódio, como viveu desde então, é completamente ignorada. E você deve estar imaginando o resultado disso, não é? Sim, caro leitor, quando voltamos ao presente não há nada, nenhum sentimento de empatia ou interesse por qualquer um desses personagens.
Somente aqui teríamos já a resposta para o fracasso de uma narrativa que se baseou na tragédia de duas pessoas mas não conseguiu fazer com que o público se importasse com elas. Mas também temos o problema da tragédia em si. Ela deveria ser o grande ato central, pelo qual o enredo gira em torno e igualmente todos os seus personagens. Mas acontece que ela nunca é representada dessa forma, na verdade, nesta história ela passa mais despercebida que silicone no carnaval! Josué mesmo passa a vida inteira sem sequer lembrar do que fizera, e como poderia? Aquela não era a primeira vez que matava e ele encarou a ação de maneira até banal. Ela não representa sequer algo essencial em sua vida, pois nada muda por causa dela. Josué não enriquece pela recompensa, mas sim por ter casado com uma comerciante.
O grande tema, portanto, é apenas importante para Miguel, individuo que quase nunca aparece na narrativa, e assim, o enredo se perde, não possuindo direção ou centralidade. Tudo o que vemos são vários personagens expondo como se sentem sobre seus próprios dilemas, mas sem chegar a lugar algum. Me digam, do que importa sabermos que João ama a filha de Josué, se a trama não se centrou em seu drama em se apaixonar pela filha do homem que matou seu pai, mas o deixou completamente solto, sem resolução ou desenvolvimento?
E essa é uma grande questão nesta série: os dramas apresentados poderiam ser extremamente emocionantes, mas nunca são aproveitados. Como não seria se, ao invés de apresentar os pontos de vistas de tantos personagens, ela focasse em apresentar a vida dos dois protagonistas, simultaneamente, mostrando como Josué crescera em cima do ato criminoso, como aprendera a ver o mundo e a se proteger, mas sempre lembrando-se de seu ato, levando o leitor a uni-lo ao outro personagem, Miguel, que do outro lado, alimenta seu ódio, tendo que viver ao lado do assassino do pai, expondo ao leitor seus sentimentos e seus conflitos, e criando o climax até a realização da vingança?
Já essa narrativa não poderia soar menos fora de propósito! Eu devo destacar sim a segurança do autor, ele apresenta uma condução segura e os diálogos soam bastante críveis na maioria das vezes. Aliás, os trechos, como a descrição de Fabiano e a raiva de Josué ao ver o pai abusando de sua irmã, foram bastante eficientes e podemos ver a tentativa em dar a todos os personagens suas próprias cores e complexidades, embora nenhum tenha conseguido ser verdadeiro no coração do leitor.
Isso porque, suas complexidades nunca mostraram-se características de uma pessoa inteira, real, mas um conjunto formado de informações, como se o autor se sentisse na obrigação de inserir personalidades complicadas em seus individuos. Exemplo disso é o padre manuel, descrito como um sacerdóte controlador e arrogante, quando nenhuma de suas ações ou comportamentos consegue manter essa informação, o mostrando, ao contrário, como alguém caridoso e humilde. Não é difícil de perceber então que essas características penas lhe foram postas para gerar um efeito forçado de complexidade.
Todavia, para que o leitor acredite em um personagem ele não precisa ser complicado ou cheio de nuances, alguém pode ser bastente simples e ainda ser entendido e amado, o que ele precisa acima de tudo é ser conhecido.
Amamos aquele de quem somos íntimos, essa é uma verdade eterna e que deve ser aprendida pelo escritor se quiser criar histórias que permaneçam na mente do leitor, a de criar um mundo que abrace-o, que o faça sentir parte dele e tão conhecedor de seus individuos que os confunda consigo mesmo, transformando-se eles próprios nos personagens de nossas histórias.
Mas ler "Inimigos", fez-nos sentir como Miguel, assistindo com um rosto impassível a morte do próprio pai.
É isso guys! Espero que tenham gostado! Desejo a vocês toda a paz do mundo e que seus sonhos se realizem! Agradeço as sugestões que me ajudam a conhecer tantas tramas interessantes, sem vocês eu nada seria, thank you! Beijoo e bye bye!
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Notas DIGG TV
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