Pensando Alto - Arlequina e Anastasia Grey: Qual a graça do lobo mal?



Título Original: Fifty Shades
Ano: 2015
Diretor: Sam Taylor-Johnson
"Você já se apaixonou?". É a pergunta feita pela personagem Arlequina em uma cena do filme Esquadrão Suicida. A arma apontada ao questionado e o semblante instável da moça, porém, demonstram que a pergunta não vem de uma simples garota enamorada, e sim, de uma desequilibrada mulher, envolvida em um relacionamento abusivo. Assim como Anastasia, que submissamente espera pela próxima chicotada de seu dominador Christian Grey. O que essas duas mulheres têm em comum é óbvio. Ambas mostram uma devoção e afeto inacreditáveis por parceiros rudes e até mesmo psicopatas. A pergunta evocada, no entanto, não é o porque de o fazerem e sim, o que leva milhares de pessoas ao redor do mundo a glorificarem esses casais ao ponto de até mesmo declarem-nos como "metas de relacionamento?".

Não é mistério para ninguém a verdadeira histeria em volta desses "pombinhos". A autora de Cinquenta Tons de Cinza, E. L. James e seus milhões que o digam! Milhares de exemplares vendidos pelo globo inteiro. No YouTube, maior plataforma de entretenimento virtual, centenas de vídeos dos vilões de Batman em cenas românticas e trilhas sonoras doces alcançam visualizações imensuráveis. Blogs feministas, críticos e mídia começam a apontar então, para os riscos da "romantização" do que eles consideram "exemplos de abuso doméstico e opressão feminina", alegando que isso estaria promovendo e colorindo situações machistas e criminosas e assim, influenciando milhões de meninas a envolverem-se em relacionamentos abusivos.


Sendo assim, isso nos leva a uma constatação simples: se o que está sendo louvado é a "violência masculina", os assim chamados fãs destes couples, seriam todos homens machistas e violentos, certo? Todavia, ao examinarmos mais atentamente a questão encontramos um pequeno problema: a quantidade de seus "adeptos". Como citado acima, passam dos milhares! Seriam então todos estes, homens opressores? Poderia ser, acontece, que examinando mais de perto ainda descobrimos que na verdade, a maioria esmagadora de seus admiradores constituem-se de mulheres! Isso mesmo! Mulheres de todas as idades, etnias, religiões e sexualidades. Estaria o sexo feminino então louvando o próprio sujeitamento? Certamente que não. Fica evidente então que essas mulheres devem estar enxergando algo além do observado pelos demais. O que estaria tornando mulheres do mundo todo sedentas por uma relação com Christian ou Coringa?


E isso tudo pode ser explicado em uma palavra. Poder. Como assim, podem pensar, essas personagens estão completamente dominadas por seus parceiros, onde há o poder nisso? Vamos começar pela definição do que seja poder. Poder nada mais é que a capacidade de influenciar os seres humanos. Mas não falo de poder no sentido estritamente político ou financeiro, e sim, no poder de conquistar as outras pessoas. É conhecido que, o modo com que, os que convivem ao nosso entorno nos olham, tratam e classificam, é a matéria principal com a qual construímos nossa autoestima, nos enxergamos e sentimos sobre nós mesmos. Ou seja, quanto mais pessoas consigo conquistar, mais amado sou, portanto, melhor sou. E é aí que entra uma diferença essencial na mente masculina e feminina. O homem exerce essa influência pelas coisas que tem. Suas propriedades, bens materiais. Ao contrário da mulher, que prefere obter essa validação por ela mesma. Sua beleza, seu charme, seu poder de convencimento.


Tendo o centro de seu amor próprio arraigado à sedução por seus atributos sentimentais e físicos, não é difícil entender a dinâmica por trás do fascínio por Christian e Coringa: se ao conseguir o afeto de alguém, sou boa, quanto mais desafiante esse alguém aparenta ser, mais valor tenho por conquistá-lo. Sendo assim, um homem que demonstra problemas, mistérios e traumas, sempre terá sua dose maior de interesse perante ao gênero feminino. Adicione à mistura a biológica tendência materna que toda mulher abriga em si e terá milhões de espectadoras suspirando por cada abertura e pequena demonstração de afeto que estes "príncipes incompreendidos" soltem. Está explicado o tão famoso "amor por bad boys", e o porquê de muitas casarem-se com estes tipos sonhando que um dia eles mudarão, e ela, a garota especial, única capaz de realizar essa mudança, poderá orgulhar-se para sempre de seus feitos.




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