E isso já compromete o segundo item da lista quando Conrado, não possuindo motivações suficientes para fazer o que faz, ainda demonstra um sadismo estranho ao perfil de esposo amoroso que a trama que impôr. Não bastasse o grande ato cruel de abandonar a filha que encontra anos depois e comprar o julgamento ele se mostra completamente inabalado pelas suas atitudes. Quando Estela o confronta, por exemplo, há o desconforto do momento, mas nunca um exame interior em que Cornado, em seu íntimo avalia suas ações, ele até mesmo viaja depois do resultado no tribunal.
O que nos leva enfim, ao último item. Temos sim, os agentes exteriores, Estela e Dr. Pegliard que apenas servem para dizer ao Conrado quão errado ele está, mas como dito acima, nada disso tem qualquer relevância para o psicólogo que jamais demonstra estar em verdadeiro conflito dentro de si. E a prova disso é a insanidade que ele afirma no final da série, ora, uma pessoa louca não possui pensamentos conflitantes, apenas um, obcecado e sem lógica, o que explicaria, talvez, o amor que diz sentir pela mulher.
Assim, o autor falha em criar o conflito, o tema central da narrativa, o grande drama do protagonista, e o que nos resta é somente seu ato feito e realizado com sucesso. Não há verdadeiro obstáculo, afinal, o impedimento é um homem morto, não há contrariedades, Estela não possui provas, enfim, em outras palavras, não há história. E alguns podem atestar a existência de uma segunda temporada, ao que digo que então está servirá, na melhor das hipóteses, como uma introdução fraca e sem carisma. E introdução ao quê?Ao ato de um homem apaixonado? Não, ato de um homem egoísta que comprou própria a paz. E baseando-se numa farsa, não conseguimos dar à sua continuação uma promessa muito boa.
Mas e se o plano da história for mesmo esse Érika? E se Conrado é mesmo esse homem egoísta e cruel? Aí então, nunca haveria a razão para qualquer conflito, portanto, para qualquer história, e assim, a farsa não seria da história mas de seu autor.
Não quero dar a impressão, porém de que a série não tem condição nenhuma. O autor apresentou uma habilidade boa em intercalar os dramas dos personagens e dar a eles características individuais, o ritmo é bom e, ele consegue acertar em alguns diálogos muito bem, mesmo falhando na maioria. Ele também demonstra uma boa evolução em comparação à Cesareia, focando mais em seus personagens e, embora falhando, tentando criar um conflito para o protagonista.
Ao fim, quero fazer um pedido ao autor, ousado, admito, mas não tão louco: reescreva. Sei que reescrever faz parecer que todo o tempo e esforço gasto com a trama foi desperdiçado, mas pelo contrário, ela serviu como base para algo que pode ser melhor. Não consigo contar quantas vezes tive que reescrever minhas histórias, com certeza, se não fosse digitado, teria utilizado papel suficiente para acabar com a amazônia!
Pois a verdade é que, muitas vezes, nossas histórias não conseguem ser escritas na primeira vez, elas precisam ser forçadas a sair, até que toda sua forma possa ser vista pelo leitor. E isso significa que a verdadeira PSI, o que deveria ter sido, e pode ser, está dentro de seu escritor, esperando para ver a luz.

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Notas
1. Essa coluna está protegida pela lei nº 9.610/1998, Art. 46 III, que protege a utilização de qualquer obra ou trechos dela, em qualquer mídia ou meio de comunicação para fins de crítica, estudo, ou polêmica.
3. Este quadro não tem como intuito rebaixar ou menosprezar qualquer autor ou obra, mas sim, de abrir um diálogo em prol da qualidade literária.
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