
Heloo weblovers, como estão? Aproveitando o tempo com a família? Será que eu sou a única que não acredita nessa história de que a quarentena vai unir as pessoas? Talvez, se você tiver aquela família do churrasco do comercial do seara, mas se você tem o tipo de famílias que vejo por aí, ficar tanto tempo confinado aumenta mesmo é a probabilidade de homicídio qualificado! Afinal, se ficar tanto tempo junto aumentasse o amor, a Fátima e o Wilian estariam casados até hoje! E, falando nisso, não em separação, mas em homicídio, vamos a web de hoje?
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Autor: Adélison Silva Ano: 2019 |
Isso porque estamos falando de um assassino, nada mais nada menos que nosso protagonista, Maxwell. Tímido e inseguro, o garoto sempre foi vítima de bullying no internato, até conhecer a linda Erica e apaixonar-se perdidamente, no entanto, na visita á antiga fábrica de soda, um terrível acidente ocorre, lançando fogo em todo seu corpo; ele acaba acordando em uma caverna e lá passam-se 10 anos. Seu rosto está deformado, mas o amor por Erica e o desejo de vingança contra seus agressores, ainda permanecem vivos em seu coração.
Interessante, não é? Tem vibes de conde de monde cristo, somente que, em um plano bem menor, com os adversários de Max dando-lhe apenas xingamentos e alguns socos na cara, até mesmo seu acidente, não é causado por nenhum deles, o que deixa a vingança de fato, desproporcional, mas não menos instigante. O ritmo é bom e não perde tempo, já iniciando com a introdução á Max, seus conflitos, a paixão por Erica e o acidente. A fluidez também é excelente, alternando entre os trechos do narrador e do personagem. Muito boa escolha que, impediu o texto de ficar tedioso, mas o deixou sempre atrativo quando mergulhávamos no mundo interior do personagem.
Porém, é neste mesmo mundo interior também que se encontra o grande problema desta série, pois as motivações e desejos do mocinho são tão volúveis que torna impossível traçarmos uma personalidade concreta: ele diz amar Erica, logo depois, afirma a odiar com desejo de vingança; é cruel e até mesmo sádico ao matar, mas em outras vezes, arrepende-se e é caridoso, formando uma dualidade que não possui explicação de como foi criada.
E essa inconsistência chega ao extremo, na primeira cena de assassinato, quando Max acaba matando, por “acidente”, uma moça que ousou chegar perto da caverna. Muito boa cena, aliás, em que o escritor, de forma inteligente, escolhe narrar pela visão do protagonista, fazendo com que o leitor acompanhe os acontecimentos e se assuste junte com ele:
MAX: (off) A moça se debatia em seu desespero, tentando fugir dos meus braços. Levado pela adrenalina do momento, a seguro com mais força e sinto a faca perfurar o seu couro um pouco abaixo do seu seio, em meio as duas de suas costelas flutuantes. A moça arregala os olhos e geme de dor. Apavorado, aprofundo a faca sentindo o seu sangue escorrer em meus dedos. Percebo que a lâmina entrou por completo, pois o cabo já se encostava ao osso da costela. Ela para de se mexer e, soltando-a lentamente vejo-a ceder ao chão, morta.
No entanto, o que acontece depois é que nos pega de surpresa, quando ele “sente vontade em provar sua carne”, e o faz, mas de forma literal! Sim, a trama é a respeito de canibalismo, o problema é que em nenhum momento o autor cria o desenvolvimento para isso; esta é a cena antes do “ato” ocorrer:
e mais do que depressa imobilizei a moça, amarrando seus pés e seus braços. Logo depois ele senta ao lado da moça e continua admirando-a. Lentamente ele a toca, passeando a mão de leve pelo seu corpo. Acariciando o seu rosto e entrelaçando as mãos em seus cabelos. Desejando-a como nunca naquele momento.
MAX: Érica, minha amada Érica. Como eu queria ter você todinha pra mim. Porque me abandonou aqui? Porque não quis mais saber de mim?
A cena claramente desenvolve-se para um possível estupro, com ele lembrando das formas de sua amada, inclusive com um flashback de quando a viu tomar banho e acariciando a partes da garota.
Assim, o canibalismo não só é totalmente inesperado como inexplicável. Pasmem, Max até adimite depois que, antes de estar na caverna, era vegetariano e abominava o ato de comer carne de animais. O que faz alguém assim começar a comer carne humana e ainda mais desejá-la loucamente? Essa é a questão, e que NUNCA é respondida nessa trama, o que faz dela seu pior erro!
Podemos usar o filme “poço”, famoso na plataforma Netflix, como exemplo. Nele, o protagonista também é levado ao canibalismo, mas acontece que a trama cria toda a ambientação e motivação necessária pra fazer com que ele quebre seus princípios para cometer um ato que antes considerava abominável, no caso, o desejo de vingança, a falta de recursos e a extrema fome. Agora me digam, quais os motivos Max tinha? Nem sequer a fome pode ser colocada, afinal, ele era muito bem alimentado!
Assim, o autor torna o desejo do personagem, que ele clama ser “incontrolável”, e que era o conflito interior do mesmo, em apenas um "fetiche" fútil e sem razão de ser, e nenhum apelo pelo drama de Max é comprado pela audiência que não acredita em seus remorsos de jeito nenhum! Se o canibalismo fosse apenas um “extra” aos atos de assassinato, podíamos até perdoar, não fosse, “o desejo por carne”, ser o motivo por trás de quase todos acontecimentos na trama.
O enredo, então, só não se perde em uma série de mortes, com bases fracas de motivação, pelo tema do amor obsessivo por Erica, que se desenvolveu muito bem desde o inicio, mostrando a insegurança de Max que se agarrou ao afeto dela e os ataques de ciúmes, e continuou consistente até o final; e, embora não soubéssemos se ele queria matá-la ou ficar com a garota, ao menos deu uma direção ao texto.
Mas infelizmente, o autor falha em dar ás cenas de encontro, a grandiosidade que mereciam. Quando o protagonista finalmente encontra Erica, a cena é descrita sem preparação, como se fosse mais uma vítima dele. O diálogo entre eles é fraco, nada adicionando aos personagens ou á trama. O texto fica indeciso entre o canibalismo e a paixão que ele sente por ela, e, sem saber o que fazer com o personagem, o mata, em um suicídio inesperado.
Ao final, podemos dizer que “antropófago” teve a coragem de ousar com uma tema, de fato, desafiador: transformar um menino frágil em um assassino sedento por carne humana, somente ainda não possuía os recursos para isso. De ritmo ágil e boas cenas de ação, rende momentos intensos e de bom entretenimento, mas ao tentar nos entregar um vilão, nos dá um menino confuso, assassino por acidente, carnívoro por opção.
E é isto pessoal? Tem alguma web que gostaria de ver criticada aqui na coluna, só deixar nos comentários! Beijoo e bye bye!



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Notas
1. Essa coluna está protegida pela lei nº 9.610/1998, Art. 46 III, que protege a utilização de qualquer obra ou trechos dela, em qualquer mídia ou meio de comunicação para fins de crítica, estudo, ou polêmica.
2. Este quadro não tem como intuito rebaixar ou menosprezar qualquer autor ou obra, mas sim, de abrir um diálogo em prol da qualidade literária.
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