Oláa meus weblovers, como estão vossas senhorias? Espero que deleitosos! Gente, vocês alguma vez já desejaram ir para outra época? Ou mesmo ter nascido em um tempo diferente? Eu já! Imagina usar aquelas saias longas de bolinhas e ir dançar um rock ao lado de um boy de gel no cabelo e jaqueta de couro? Ou enfrentar épicas batalhas no coliseu ao lado dos grandes gladiadores? E sim, eu sei que não temos a grande máquina do tempo de Hill Valley, mas ao invés, temos nossas histórias! Como a
web que iremos falar hoje, que com sua graça e boa escrita, consegue te transportar direto para outra era... Apenas que, não tão boa assim!
Estamos em 1887, e a escravidão ainda é legal no império do Brasil. Mas não nos corações dos jovens abolicionistas, como Ernesto, nosso galã; mas seu amor pelos escravos ainda lhe custará consequências gravíssimas ao se apaixonar por Luzia, causando a fúria não somente de uma sociedade dividida pela cor da pele, mas de Núbia, sua esposa, tão cheia de maldade como de mistérios tenebrosos.
E aqui temos a típica trama “Romeu e Julieta”, mais usada que aquela camisa que você não joga fora, mas que, sendo bem-feita, sempre entrega bons enredos. E este, felizmente, é o caso deste aqui: seu enredo consegue captar a atenção do leitor, pois cria conflitos interessantes entre os personagens, que geram tensões e reviravoltas que se resolvem e se movimentam rapidamente, tornando-a uma trama de ritmo rápido mas eficaz.
No entanto, mesmo conseguindo levar o leitor, sua estrutura esconde um erro grave de sustentação (erro característico do escritor, vide sua novela anterior
"Preço da Vida"), quando todas as ações na história decorrem apenas da vilã, Núbia. Todo o impedimento do romance central vem dela e somente se resolve quando ela, por um acaso do destino, falha em concluir seu plano, o que acontece diversas vezes na trama. Assim, fazendo com o que a antagonista seja combatida não pelos mocinhos, mas por seus próprios erros, o autor acaba condenando todos os outros personagens a um estado de suspensão, em que, não fazem nada, apenas esperar pelo próximo ataque ou falha da megera.
E não bastasse só isso, para acrescentar à falta de expressão dos mesmos, a trama ainda falha em dar as personas na história características que os individualizem; temos sim, seus sentimentos expostos, no sentido de que sabemos exatamente o que querem a cada momento, mas isso somente ajuda para nos inserirmos na história e sabermos para onde está caminhando, mas não constrói uma relação intima e afetuosa do público com nenhum dos envolvidos.
Isso não consegue, é claro, tirar o brilho da trama, mas não é a toa, que a melhor personagem, e diga-se de passagem, melhor ponto da web, seja Núbia, por possuir muito mais camadas que os demais. Podem perceber, seu jeito de pensar, vestir, seus gostos, defeitos e qualidades estão muito melhores definidos que os demais, tornando-a uma pessoa à parte, diferente e a destacando dos outros. Ouso até em dizer que a trama funciona, não pelo amor que temos pelos mocinhos, mas pelo ódio que sentimos dessa bruxa gótica e cruel.
Eu simplesmente amei a construção extremamente sábia que o escritor deu a esta persona! Ele começa por apresentar Núbia como esta moça inadequada e reclusa, mas logo, assim que o leitor fica a sós com ela, lhe dá tons de sensualidade extremos, causando um contraste incrível, que fascina ao mesmo tempo que causa curiosidade, também pelo fato do autor nunca revelar sua personalidade inteiramente ou público.
Com o progredir da narrativa então, as características sombrias vão crescendo sutilmente, adicionando ao mistério e ao temor do público diante da moça. Ela apenas perde quando demonstra uma obsessão por Ernesto que não combina em nada com sua construção psicológica fria e cruel ou quando toda a sobrenaturalidade acaba por não afetar em nada na história, além de alguns feitiços e cruzes caindo no chão; mas ainda assim, posso dizer, uma das melhores vilãs do mundo weblístico desde “ovelha negra”!
Os diálogos infelizmente são a pior característica desta novela, pois se ambientação quer te colocar em 1887, as falas fazem mais parecer um colégio nos anos 90. Com expressões como “conexão” e “química” sendo ditas pelos nobres.
E se os mais abastados falam como jovens em uma sitcon americana, os escravos falam aristocratas em um livro da Jane Austen!
Já imaginaram, um escravo que nem sequer aprendeu a ler e viveu a vida inteira em uma senzala falar assim?
“Eu não me negaria a isso se fosse minha função, a sinhá está chegando hoje na fazenda, talvez não saiba. O Ruan pode fazer isso, ele é um dos escravos destinados a trabalhos manuais nas redondezas do sobrado.”
Mas apesar dos erros apontados, esta obra não deixa de ser uma grande surpresa para mim! Com seu estilo único e inteligente, ela soube se sustentar com seus dramas e cativar o leitor com seus conflitos, além de entregar uma das melhores personagens vistas por mim! Devo ressaltar o tom de respeito e neutralidade que o autor teve em relação as crenças de todos os personagens, nunca intrometendo-se em ditar uma mensagem acima deles. Uma característica rara e perdida hoje em dia, em que os escritores querem sobrepôr sua mensagem acima de suas histórias, criando em seu lugar, um mero panfleto ou propaganda de ideologia.
Ao invés, ele deixa seus personagens livres para contarem seus dramas e alegrias. E este, ao final, é o trunfo de uma boa obra: a capacidade de contar, ela mesma, sua própria história.
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