PENSANDO ALTO: O PROBLEMA DOS ROMANCES HOT!



Se você é familiarizado com o mundo das histórias virtuais, alguma vez já leu ou até mesmo escreveu um romance HOT. Bastante popular nas comunidades do antigo orkut e nos sites de fanfics, esses romances tomaram o gosto do leitor virtual, e mais recentemente, com o sucesso da fanfic "Cinquenta tons de cinza", quebraram a barreira editorial e dominaram o mundo todo, influenciando em uma sucessão de tramas deste tipo.

São, como já se deduz pelo nome, histórias de amor, mas que, ao contrário dos romances comuns, não terminam no beijo apaixonado do casal, mas os acompanha também ao quarto, mergulhando embaixo dos lençóis, com uma descritividade bastante expressiva e, muitas vezes bizarra.

Mas, de fato, esta é a única diferença existente entre os dois romances. Bem, isso em teoria, porém, cada vez mais as dissemelhanças aumentam entre os dois, transformando o ROMANCE HOT em um gênero completamente aparte e num grande problema também!

Acontece que, de uns tempos pra cá, o apelo para as cenas quentes se tornou tão grande que levou os autores a focarem mais nelas do que na história em si, acabando por fim a transformar o sexo no grande tema, não somente do enredo como de toda a motivação dos personagens e da história! Desta forma , todas as cenas e acontecimentos, estão ali apenas para um motivo: levar ao encontro sexual ou impedí-lo, em busca de prender o leitor a ler todos os capítulos.

Os personagens não possuem descrição psicológica sobre suas motivações ou desejos, mas com detalhamento quase absurdo, é nos dito a marca da calcinha e o tamanho do orgão genital do galã, não temos o que chamamos de "objetivo", ou uma trajetória para o protagonista, ao invés, temos a "saga da calcinha", em que o casal, por algum motivo, pode ser um casamento forçado, um rapto ou herpes (sim!) é impossibilitado de realizar o tão esperado coito.

Sim, não há mais aquela mocinha com seus problemas e traços de personalidade que se encontra com um rapaz também cheio de características individuais e formam juntos uma relação de amor e confiança que irá enfrentar todos os obstáculos, ao invés, essas narrativas nos oferecem individuos lindos no exterior, mas vazios por dentro, que movem o enredo dependendo do ciclo menstrual ou cio. Em uma constante expectativa para o prazer, elas tentam o leitor com momentos eróticos aqui e ali até chegar ao climax, desta vez, não o da literatura, quando o personagem percebe-se a si mesmo e muda seu destino, mas sexual, quando o casal goza e o leitora molha a calcinha.


Não é difícil constatar então que estas webs tornaram-se verdadeiros filmes pornôs, no qual o cenário está ali apenas como desculpa para mudar um pouco a rotina, mas o ato é sempre o mesmo; da mesma forma, seja raptada pelo mafioso, levada pelo príncipe ou encarcerada pelo traficante, tudo isso é somente um pano de fundo para cenas de sexo dissecadas e sem emoção. E o resultado disso é que, como filmes adultos elas terminam por converter-se igualmente em produtos descartáveis, usados por um período para atender as necessidades imediatas do leitor e logo esquecidas junto a pilha de outras iguais a ela.


Porque esquece-se que, o que permanece é o que tem significado, o que faz refletir e emocionar. O verdadeiro romance pode ter cenas quentes, mas o sexo é fruto da boa relação construída entre os personagens e nunca o tema principal. E é pela falta deste significado que os leitores, sedentos, procuram por mais cenas quentes, cada vez mais descritivas e pornográficas, em busca de tirar delas o sentimento que só um verdadeiro amor provoca.


Pois o amor verdadeiro tem o poder de nos fazer estremecer perante uma simples troca de olhares, de nos desesperarmos apenas com um toque na mão, porque isso é a demonstração física de um sentimento que foi cultivado no interior dos personagens e presenciado pelo leitor, enquanto que o casal que não faz sentido, que só está ali pelo simples tesão, pode se desdobrar em posições mais loucas que o circo de soleil, e só irá conseguir um efeito instantâneo e barato.

Mas este fenômeno não é recente. Sempre existiu e sempre existirá a literatura pornô, afinal, a linguagem está aí para ser usada para todos os objetivos. O problema, então, não está na existência deste gênero, mas em seu alcance nunca antes visto, que tem criado best sellers, e até mesmo filmes, como 365 Dni, por exemplo, e o mais agravante é que assim está influenciando milhares de jovens a acreditar que isso é a verdadeita literatura. Enquanto os bons romances são esquecidos, deixados de lado, por produtos descartáveis que não durarão na memória.

Meu apelo, portanto, é direcionado aos escritores: não caiam nessa armadilha, não transformem suas histórias em revistinhas de banca que venderão facilmente, mas que não serão lembradas no dia seguinte. Mas criem os bons enredos, os personagens inesquecíveis, que tocam a alma antes de tocar o corpo. Afinal, o encontro das genitálias é fácil e primitivo, até os animais o conhecem, mas o caminho para o coração do leitor é desconhecido e somente alguns logram alcançar.

Ao fim, só basta lembrar quem são J. k. Rowling e E. L. James. 

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