ADOROWEB - SOBRE A ESTRUTURA - PARTE 1

   


Como escrever uma história. Você já se perguntou isso? Quando queremos escrever uma narrativa, geralmente nossa primeira preocupação e prioridade é achar uma boa ideia, criar um enredo bem bolado e formar personagens marcantes, e embora isso seja, de fato, crucial para o sucesso de uma trama, há um componente mais que importante que acaba sendo deixado de lado em nossas considerações: a estrutura. 

Porém, antes que alguns comecem a pedir clemência, temerosos de ir para o inferno literário, devo avisar que este é um erro mais que natural, principalmente para quem está começando, portanto, meu objetivo aqui não é de crucificar a falta da estrutura, ainda que isso seja uma deficiência técnica, mas antes, explicar sua enorme importância e, principalmente como sua inexistência pode levar até mesmo uma boa história ao fracasso absoluto. 

Mas, antes de tudo, o que é a estrutura da narrativa? 

Estrutura nada mais é que aquilo que sustenta a sua história, ou seja, o plano que está por trás dela. Não é a toa que ela é chamada por alguns de "esqueleto", pois da mesma forma como, dos pés à cabeça possuímos ossos interligados no qual nossos orgãos, músculos e pele acomodam-se, funcionando como um cavalete para os manterem em pé, do mesmo jeito a estrutura é aquela que dá a forma à sua trama, ou seja, é o desenho geral determinado pela estrutura que molda a narrativa, assim como uma forma de bolo. 

Mas bem longe da complexidade de uma construção óssea, a estrutura é bem simples:

Introdução                      Desenvolvimento                   Desfecho

Já ouviu falar que todo conto tem um começo meio e fim? Pois é. E não necessita muita observação para perceber que esse sistema se reflete em praticamente tudo em nossa vida, afinal, somos seres cíclicos: nascemos, progredimos e morremos, e assim é o modo como entendemos tudo o que nos cerca, as histórias que contamos, os projetos que fazemos, nossos relacionamentos... E é assim também que devemos entender a criação de uma narrativa. É bom ressaltar que isso não tem nada haver com cronologia, uma história pode muito bem iniciar pelo final, por exemplo, nesse caso, o final será a introdução. O sistema, portanto, está acima da ordem dos acontecimentos. 

E com tudo isto dito, é hora de criarmos nossa história. E ela se chamará: "A saga de Maria". E vejamos, o que vocês podem me dizer de Maria? Quem ela é? O que deseja? Onde vive, e em que momento da história? Exatamente! Vocês não fazem a menor ideia, porque Maria ainda existe apenas em minha mente. É preciso então colocar essas informações para fora. E é aí que entra a introdução, que é o momento em que você dará ao leitor as informações necessárias para que ele saiba onde está. 

Temos que entender que sempre que o leitor inicia nossa trama é como se ele mergulhasse em um mundo branco, onde nada existe, nem chão, nem teto, absolutamente nada. Assim, somos nós os responsáveis por determinar os contornos desse mundo para que lentamente ele tome forma diante de quem lê e o mesmo veja a mesma coisa que nós vemos. Muitos autores, no entanto, escrevem como se o leitor fosse a própria mãe Diná e possuísse o dom de enxergar o mundo que ele imagina. Por isso, sempre que fechar os olhos para pensar no universo de sua história, se pergunte, "será que isso atingiu o papel, ou está apenas em minha mente?".
Mas, muito além de apresentar o que é a história, ou seja, onde se passa, como é o protagonista, é na introdução que oferecemos o grande problema da narrativa. Uma história nada mais é que narrar algo que aconteceu, certo? Afinal, se nada ocorre não tem nada para contar. Imagina se minha história fosse assim: "Maria é uma garota feliz e tudo vai bem em sua vida"... O que ocorreu aqui? Isso mesmo, nada! Não há a espera para uma continuação ou resolução porque tudo está resolvido, nem havia nada para começar. 

Mas se eu disser: "Maria é uma garota feliz, mas um grave acidente a fez ficar paraplégica, a fazendo perder as esperanças na vida e no amor"... De repente, de uma narrativa vazia nós temos um caminho a seguir. Cinderela sonha com o príncipe mas sofre nas mãos das irmãs, Peter parker é um gênio que quer uma chance com Mary Jane, todavia, um nerd que sofre bullying, o problema central, portanto é aquele que dará ao enredo um assunto a ser resolvido e dessa forma um caminho a seguir.

Ok, Maria está agora em uma cadeira de rodas, como prosseguiremos? E é essa exatamente a palavra, pois o próximo passo após a introdução é o desenvolvimento. Após termos apresentado a questão central, a história abre caminho para diversas possibilidades que levarão para o determinado desfecho escolhido por nós, mas o que nos levará do ponto A, a introdução, para o ponto C? Essa é a resposta que o desenvolvimento deve responder.

Pode ser a chegada de alguém, um acontecimento catástrófico, uma tomada de decisão, ou seja, algo que mude a rota, que provoque uma modificação no estado inicial. Um exemplo é o romance "Como eu era antes de você": de início vemos Will revoltado e desesperançoso, até a chegada de Louisa... ou o jeito arrogante de Tony Stark que muda depois que é sequestrado por terroristas o levando a tornar-se o famoso homem de ferro.

O que poderá mudar então a saga de Maria? Vamos dizer que ela encontre um antigo tesouro de família e lá ela descobre um diário de sua avó em que ela expressava o desejo de encontrar seu único filho, perdido há muito tempo. É importante também darmos aos nossos personagens questões pessoais que serão respondidas ou solucionadas no desfecho da história, assim damos uma significação maior à narrativa ao passo que fazemos com que o leitor se identifique com o personagem e sinta que chegou no fim da jornada junto com ele. Maria, impulsionada pelo o que acredita ser a missão de sua vida, sai em busca desse filho perdido de sua avó. 


 

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Notas 

1. Essa coluna está protegida pela lei nº 9.610/1998, Art. 46 III, que protege a utilização de qualquer obra ou trechos dela, em qualquer mídia ou meio de comunicação para fins de crítica, estudo, ou polêmica.
2. Este quadro não tem como intuito rebaixar ou menosprezar qualquer autor ou obra, mas sim, de abrir um diálogo em prol da qualidade literária.

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